How Dune Changed Me

Fez-me pensar o que poderia acontecer se um dia nossa sociedade realmente fosse abolir o uso de máquinas digitais em razão do advento de rogue AIs.

Three-Sentence Summary

  1. Em uma sociedade feudal futurística onde não se usa computadores e famílias são donas de planetas inteiros, uma família real em ascensão é traída pelo imperador que teme sua popularidade ao ser designada um novo planeta com clima de deserto e grande valor econômico devido a um recurso natural produzido por vermes de areia gigantes que permite a viagem interestelar.
  2. O único sobrevivente do atentado é o filho do Duque e sua mãe-bruxa. Juntos eles vivem como fugitivos pelo planeta e aprendem a sobreviver com a ajuda de tribos nômades do planeta.
  3. O filho do Duque vira o líder dos nativos devido aos encantos religiosos da seita de bruxas que sua mãe faz parte e se vinga do imperador e todos os outros que o traíram em uma grande trama e estratégica política.

Notes

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Lembrou-me muito de Eragon inicialmente, esse livro é o tipo de livro que é tão intenso em seu desenvolvimento de mundo e de personagens que precisa de um próprio glossário na parte final do livro com os significados de palavras e expressões idiomáticas. Não é à toa que é considerado um clássico da literatura fictícia. A história aparentemente é centrada em um menino chamado Paul, que está destinado a ser o “Kwisatz Haderach”. Ele é filho de uma concubina – Jéssica - treinada em umas das diversas escolas de especialização humana pós-computadores conhecida como “Bene Gesserit”, onde apenas seres humanos do sexo feminino são capacitados em ler pessoas e ver o passado, mas apenas relativos ao seu sexo. Porém Paul, por ser o “Kwisatz Haderach” possui não só a habilidade de ver o passado de ambos os sexos, mas também o futuro por meio de seus sonhos. Mas ainda assim, para se tornar o “Kwisatz Haderach” de verdade, ele tem que passar por testes duros da Doutrina Bene Gesserit envolvendo a droga da Proclamadora da Verdade.

O conflito principal do livro vai decorrer justamente entre a família desse menino, os Atreides, que parecem estar se desertando do sistema político imperial-coorporativo (liderado por um padixá e diretores da empresa – também imperial - CHOAM) e a família Harkonnen, que então governa o planeta-deserto Arrakis, conhecido também como DUNA por seus habitantes nômades. Há ainda também nesse cenário diverso a Guilda Espacial, uma das outras escolas de especialização e que tem o monopólio do transporte espacial, a Federação das Casas Maiores do Landsraad, que parecem ser uma oposição em potencial ao império, a classe de soldados imperiais conhecidos com Sardaukar e os Mentat, que são a especialização humana que possuem as características computacionais de traçar estratégias e complexos planos lógicos. Aparentemente todos os seres que possuem algum tipo de especialização pós-computacional estão na capacidade de servos de algum representante familiar de alguma casa.

O sistema político interplanetário aparente estar alicerçado em um tripé instável formado pelas forças do Império, as casas do Landsraad e a Guilda Espacial.

A função das Bene Gesserit ainda me é confusa, não entendi se são apenas mulheres dotadas de habilidades políticas e que usam de sua atração sexual para conseguir o que querem ou se são meras servas que sabem ver o passado com maestria (ou até os dois). Seria isso um paralelo com o ensino de conventos? Não, não faria muito sentido, as Bene Gesserit tem algo como manipulação genética no processo de formação delas. Porém eu não entendo se elas são consideradas algum tipo de elite ou apenas criaturas com um poder muito valioso além do fato de serem ideais para questões reprodutivas. Seriam elas concubinas-magas com um quê de politiques? Ou a parte política já foi deixada de lado by the time of this storyline?

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Terminei o livro. Acabei lendo-o de uma vez só, por mais que tenha me levado um ano haha. Colocaria a culpa na pandemia, porém não seria verdade, eu só estava bastante engajado até o final do segundo livro e depois eu meio que cansei de ler e fiquei dando continuidade a outros projetos no horário de leitura por uns seis meses mais ou menos. De uma maneira de geral, achei bem legal. Não acho que daria a classificação de “clássico da literatura” se estivesse lendo ele sem saber o contexto e a época em que foi escrito. Acho que cai na mesma situação do livro “A máquina do tempo” de Wells, que também é tido como um clássico, não necessariamente pela escolha e estrutura narrativa da obra, mas sim pelo fato ter sido um pioneiro no gênero. Só por isso essas duas obras já tem meu respeito, trazer e fazer algo novo é assustador sempre, bravos são os que o fazem mesmo assim.

O que gostei desse livro: toda a trama política é bem amarrada, com cada entidade tendo uma dependência, desde a Guilda até mesmo os vermes de Arrakis. Toda essa teia de relações complexas faz o livro valer a pena ser lido só para sabermos como tudo termina. Todos os capítulos – por mais que não sejam numerados – começam com uma citação de um livro que existe no mundo de Duna. Isso é uma ferramenta bem legal que nos tira um pouco da perspectiva do personagem principal, o qual estamos sempre acompanhando, tanto por suas ações e pensamentos tanto pelos pensamentos dos outros sobre ele. Pareceu-me um pouco estranho de início a escolha do autor de deixar claro no texto os pensamentos dos personagens, nunca tinha visto esse formato pelo o que eu me lembre. Mas no final você acaba se acostumando com essa telepatia autoral. Achei bem entusiasmante os plot-twists que foram inseridos na história, desde a origem paterna da Jessica até a vulnerabilidade dos vermes à água. Todos foram muito bem colocados e bem justificados para história.

Por falar em Jessica, aparentemente as Bene Gesserit eram na realidade uma organização de mulheres que manipulavam a linhagem genética humana para criar o tal do Kwisatz Haderach, o qual é a versão masculina de uma Bene Gesserit, mas que seria a manifestação da fusão das dimensões temporais e espaciais. Uma loucura, eu sei. Para que exatamente elas usariam isso? Não sei também. Mas uma coisa eu posso ter certeza, isso é literalmente o que eu tinha pensado para o personagem principal da história do Game que eu criei pouco tempo atrás. Ainda bem que não tinha descoberto isso à época, muito provavelmente teria interferido no processo criativo. Mas para qualquer efeito, os poderes do Kwisatz Haderach me pareceram muito mais abstratos e vagos; o que planejo para meu personagem é mais concreto.

O que não gostei: achei que essa versão que comprei veio com alguns erros de tradução, algumas falas possuíam expressões que poderiam ser classificadas como falsos cognatos. Isso quebra a atenção e imersão, pois confunde a interpretação das afirmações. Além disso, acho que o autor que correu com a história no último capítulo. Acho que é um dos poucos que tem mais de 30 páginas. Eu esperava mais da batalha final, apesar de ter sido um jogo de estratégia muito bem planejado por Paul e seus aliados, achei que os momentos onde seria legal ter detalhes e descrições imagéticas foram negligenciados. Imagino como devem ser descritas as batalhas nas Crônicas de Gelo e Fogo (hint da próxima série que vou ler…?).

Algumas coisas que achei que foram inutilizadas foram a personagem que é irmã de Paul, não entendi qual era o sentindo narrativo de ter ela ali (talvez usem em livros subsequentes eu imagino) e os próprios Mentats que não deram nem presença na grande batalha final, o que é triste porque seria ótimo ver as estratégias tecidas por eles. Pensando melhor, o próprio Paul é um Mentat, então teoricamente teve Mentat no final. Talvez seja até esse motivo pelo qual ele foi tão frio e calculista ao saber da morte de sua recém nascido filho, o que foi algo que estranhei, mas agora fazendo a conexão entre a natureza absoluta lógica dos Mentats faz mais sentido. Fiquei por imaginar como funcionam as relações sociais e econômicas dentro de cada planeta das famílias já que cada o sistema em si é algo como uma suserania-vassalagem espacial.