How L’existentialisme est un Humanisme Changed Me

Obras literárias não possuem o poder de nos transformar, o que nos transforma é o que decidimos fazer com as informações que nos deparamos. No meu caso, a principal ideia que me ajudou a resolver questionamentos religiosos foi a necessidade humana de crer em um deus, que não passa mais dessa ação de querer atribuir significado aos fenômenos experienciados. Além disso, a consolidação da ideia de construções sociais e como o cogito pessoal e o cogito de terceiros é indispensável para a identidade e ação individual foram concreto para os alicerces que já havia construindo.

Three-Sentence Summary

  1. Filósofo defende suas ideias por meio de um seminário após ter causado uma comoção entre a classe intelectual francesa com sua obra densa O Ser e o Nada.
  2. Suas ideias se baseiam na imperatividade da subjetividade humana e como isso mostra que não há essência para a experiência humana, apenas definições e construções pessoais, o que não as fazem menos reais.
  3. Outras consequências incluem: inutilidade divina, desamparo e angústia, inexistência a priori de sentido para vida e grande responsabilidade individual e coletiva

Notes

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Jezz, that was though to read. And definitely didn’t understand everything. Esse livro é o segundo da saga de livros de vertente existencialista que estou lendo. Eu comecei a lê-lo com a expectativa de me esclarecer sobre algumas questões um tanto quanto paradoxais que eu mesmo me questionei sobre essa escola de pensamento. Eu definitivamente sou muito ligado à filosofia existencialista. É impossível negar que a minha maneira de ver o mundo e agir individualmente é de certa forma existencialista. Mas o interessante é que o existencialismo para mim só veio para rotular, polir e generalizar uma linha de raciocínio que eu tenho desenvolvido desde a separação dos meus pais (quando eu saí de casa) aos 12 anos e que até 2018 não tinha conseguido concretizar em uma filosofia pessoal geral até encontrar Sartre em uma das minhas aulas de filosofias. Por isso que eu evito dizer que eu sou existencialista ou qualquer outra coisa do gênero quando me apresento para terceiros, primeiro porque eu não aderi à filosofia como ela é lendo obras de filósofos, mas eu a constatei sem saber da sua existência pelas minhas próprias experiências individuais ainda quando jovem. E segundo porque nunca é bom se auto rotular para as pessoas, se elas já o fazem naturalmente, por que ajudá-las nesse processo preconceituoso e preguiçoso? O foco tem que ser nos valores seguidos e não no termo que as agrega. Se for para eu ser existencialista, cínico, materialista, minimalista ou até niilista, que seja por definição de outrem, pois assim eu poderei refutá-los no seu próprio julgamento ignorante, já que a única pessoa que pode me definir sou eu mesmo.

Eu decidi lê-lo de uma vez só para depois escrever, pois ele é um livro curto e é mais fácil de analisá-lo quando todos os argumentos foram apresentados.

O livro é uma espécie de transcrição de um congresso que Sartre realizou com o intuito de esclarecer o seu ponto de vista filosófico após a publicação do não tão acessível “O Ser e o Nada”. Acho que mais do que esclarecimento para o público em geral, que aparentava estar muito interessado em sua filosofia – algo que é mais usual para o âmbito acadêmico-, Sartre estava mais interessado em refutar algumas críticas infundadas que (principalmente) marxistas e cristãos estavam fazendo, alguns mesmo sem ter lido a obra inicial dele. Essa edição é dividida em três partes, uma introdutória (um prefácio que analisa a situação à época da conferência), a apresentação de Sartre e uma última onde se abre um espaço de discussão. A parte mais difícil para acompanhar foi definitivamente a de discussão, principalmente os questionamentos de Naville, que, além do pesado uso de termos técnicos da filosofia existencialista, marxista e da natureza humana, se estende por incríveis nove páginas. Apesar de ele levantar questionamentos relevantes e interessantes - os quais vou salientar a mais tardar-, seu monólogo é tão extenso que até mesmo Sartre admite não ter conseguido anotar todas as questões e sua resposta restringiu-se a apenas duas páginas.

Nesse tipo de obra do século XX é interessante ver como a doutrina marxista está muito disseminada na sociedade (lembrou-me um pouco os comentários de “A Máquina do Tempo” de Wells) e como a militância, principalmente juvenil, é importante para o movimento. Acredita-se que seja esse um dos motivos dos ataques marxistas – o existencialismo estava evitando o engajamento dos mais jovens. Já a crítica dos cristãos é mais simples de ser entendida. Pode-se esperar algo diferente quando alguém fala que a existência ou não existência de seu deus pouco importa para a vida humana?

Sartre sobre seu ateísmo existencial

Por isso que é sempre muito importante tentar entender qual é realmente a intenção de uma crítica. É para esclarecer um ponto de vista e enriquecer a discussão ou apenas um mecanismo de defesa de terceiros que se sentem ameaçados e fragilizados com as novas ideias? Em outras palavras, a crítica é para a pessoa que declara ou para o próprio questionador, em uma tentativa desesperada de autopreservação? (Normalmente é o segundo, por sinal, por isso é preciso levar críticas com uma postura meio cética).

O conteúdo geral do livro era algo que eu já sabia, porém tive alguns insights sobre a filosofia existencialista que a eventual corrosão do tempo nos faz esquecer. O take away mais importante que tive foi justamente da premissa/axioma que dá origem ao existencialismo em si:

Sartre sobre o princípio do existencialismo

Quer dizer: a existência precede a essência. O indivíduo primeiro nasce e depois se define como indivíduo. Por algum tempo já, eu tinha começado a achar que o existencialismo partia do ponto que a vida não tinha sentido pré-definido e, apesar de também ser verdade para essa filosofia, isso se trata mais de uma consequência do que uma constatação axiomática. Eu até estranhei o fato de, durante o livro, Sartre quase não falar que o sentido da vida é atribuído individualmente, sendo a única ocasião que encontrei tal discussão foi mais ao fim da obra:

Sartre sobre o sentido da vida

O grifo “a priori” é meu, pois é justamente aí que o existencialismo diverge do niilismo ou absurdismo. A vida possui sentindo para o existencialista, porém não um que seja geral e pré-existente como seria em religiões. A vida tem sentido já que cada um atribui o seu próprio sentido a ela.

Essa questão de atribuição de valor individual é constante no livro após a apresentação da premissa filosófica. A partir disso, Sartre entra brevemente em algumas consequências diretas dessa constatação.

Sartre sobre sinais

This hits close to home, já que até os meus 14 anos de idade eu havia criado uma grande quantidade de explicações, filosofias e interpretações que pudessem justificar e me ajudar a navegar na realidade que eu vivia. Ahh… e as histórias que inventa para legitimar tudo isso. Era realmente digno de material onírico. Houve um ponto onde eu até lembro ter pensando que as minhas tentativas de criar alguma interpretação que fizesse sentido era uma consequência de eu ter evitado seguir em um caminho mais religioso que a minha própria escola pregava. Isso fez com que eu acreditasse, por um breve tempo, que realmente é inerente ao ser humano aderir a algum tipo de credo. Acontece que o próprio fato de eu estar tentando criar explicações originais e o próprio fato de muitos escolherem o credo como significado para suas realidades (minha escola incluída) é uma tentativa de atribuir sentido às suas dimensões e lidar com o vazio que é a existência.

Sartre sobre a construção de sentimentos

Esse trecho é tão genial, é um ótimo argumento para discussões do tipo “ser racional vs ser emocional”. Eu já perdi a conta de quantas vezes me descrevem como uma pessoa racional/lógica. Sempre achei fútil esse tipo de rotulação, pois ela me soa dicotomicamente excludente, ou seja, ou sou um ou sou outro. Obviamente eu posso ser muito bem os dois, e na realidade somos todos os dois, todos com sentimentos, todos seres racionais. É tão absurda essa formulação que muitas vezes as pessoas que a fazem nem percebem a consequência direta disso: se eu sou racional e não emocional, logo você é emocional e irracional. Enfim, quanto à tomada de decisões, essa citação sintetiza muito bem o problema em levar argumentos baseados em sentimentos para definir uma ação. Acaba por ser paradoxal, já que o sentimento atribuído ao argumento foi gerado por uma ação anterior, e nesse caso sentimentos só serão gerados a partir de algum tipo de engajamento, então como posso me basear em y para fazer x se y só é gerado a partir de um resultado de x? A resposta: teoricamente não se pode, praticamente é possível, porém a medida escolhida é arriscada e não é a mais bem sucedida na maioria das vezes.

Sartre sobre amor e genialidade

Sartre sobre ação e engajamento

O primeiro trecho acima é algo tão necessário de ser absorvido pelo senso comum. Acredito que todos os seres humanos que viveram e vivem nessa sociedade globalizada e afogada em informações já experienciaram ou perpetuaram a noção de que: a) pessoas que se destacaram em algum meio e são consideradas gênios o são porque nasceram assim; e b) o amor é algo inato da natureza humana e deve ser tomado como um fim na vida.

Eu pessoalmente nunca cheguei a acreditar na ideia de que uma pessoa nasce com uma genialidade e assim ela é pelo resto da vida. Por mais que alguns tenham uma pré-disposição genética para certas habilidades, caso esses alguns não puserem em prática e mantiverem essas habilidades no decorrer de suas vidas, eles serão tão “normais” quanto qualquer um, haja vista que primeiro você nasce, vem ao mundo e depois se define como indivíduo com suas experiências. Por outro lado, a ideia de amor inato e perfeito sempre me permeou e, até meus 17 anos, parte de mim ainda acreditava subconscientemente na concepção de um amor romântico e idealizado. Definitivamente essa formação de opinião foi fortemente influenciada por representações da cultura pop e até mesmo de livros, como Harry Potter, que na realidade nada mais faz do que perpetuar uma ideia irreal do que seria amor anteriormente estabelecida e postergada por séculos. Não irei me ater a discutir o que realmente é amor ou o que realmente é amizade e entrar em definição de outros filósofos e religiões, pois estenderia demais uma reflexão que ainda estou explorando e é, logo, conflitante em se achar uma conclusão satisfatória. Porém, concordo com Sartre na medida em que esses tipos de amores apaixonados, amores de Romeu, amores de Julieta, onde um morreria pelo outro se a oportunidade se apresentasse é ilusória e nada mais do que uma definição pessoal. Então, por se tratar de uma construção subjetiva, não necessariamente significa que o amor não exista - sim, não existe à priori como uma força misteriosa ou uma energia mística que nos move - mas existe em uma esfera individual de criação – essa é a definição existencialista. Portanto, nesse sentido, o grande problema que se tem hoje em dia é a ideia que há um modelo dado para certos tipos de relações, sendo que na verdade cada um deve definir sua própria concepção, adaptar às suas realidades e chegar a um consenso com terceiros para assim edificar um relacionamento saudável e sem expectativas irreais baseados em modelos incompatíveis com o que a realidade realmente é: não uma obra de arte perfeita que aponta para um caminho com convicção, mas sim uma triste, inconstante e bela vastidão inóspita que precisa ser preenchida com significados para que haja algum sentindo.

Nessa conjuntura, podemos até mesmo expandir a discussão para, depois das construções individuais, as construções que fazemos coletivamente como um grupo: as construções sociais. Mas quero ler O Ser e o Nada antes de me aprofundar nessa questão.

Sartre sobre a relação entre desamparo e angústia

O livro é repleto de alegorias, metáforas e exemplos pessoais que Sartre traz para defender seu ponto de vista. Histórias são ótimas para engajar o ouvinte e servem de um poderoso instrumento retórico se puder ser generalizado de alguma forma. A história que Sartre apresenta e que antecede essa citação é sobre o jesuíta que Sartre encontrou em seu período de cárcere (não sabia que ele tinha sido preso, preciso pesquisar sobre). Esse é um trecho tão genial que ilustra como que nossas interpretações pessoais sobre supostos “sinais” moldam nossa passagem consciente na terra. No caso, o jesuíta virou jesuíta, pois ele achava que, pelo fato de aos 18 anos não ter feito nenhuma realização que o distinguisse, ele havia falhado e que isso seria um sinal. Mas um sinal para o que exatamente? Ele mesmo atribuiu um sentido supersticioso ao sinal e que a religião era realmente o caminho correto. Sartre interpreta toda essa ocorrência como uma consequência do desamparo por não haver realmente um sinal absoluto como guia e da angústia que vem logo em seguida com o fato de depararmos com a responsabilidade de sermos o próprio guia.

Sartre sobre fuga da ansiedade da maioria

A solução mais simples, claro, é tentar preencher esse vazio de significado com algum dogma que gere uma isenção de responsabilidade, o que alivia o sentimento de ansiedade e angústia. Aqui Sartre define que esse tipo de atitude que evita a todo tipo encarar a responsabilidade inerente da escolha se configura como Má-fé. Eu não concordo com ele nesse aspecto, pois acredito que seja contraditório no sentido que se a pessoa quiser que seja isso, então isso será, afinal ela é livre para escolher não é mesmo. O porém é o vitimismo e a deliberada não consciência desse fato. Talvez não seja uma divergência tão grande quanto eu imagino, só preciso ler “O Ser e o Nada” para me esclarecer quanto a Má-Fé.

Tenho outros tópicos para entender melhor com leituras futuras que Sartre comenta brevemente na obra. A diferença entre condição humana e natureza humana não me é muito clara ainda, o que compreendi é para ele o termo “natureza” implica essência e logo não há natureza humana, não há nada que nos define humano a não ser aquilo que definimos por nós mesmos durante o decorrer da história. Aí que entraria a questão de condição humana, que é o estado que a definição de humanidade se encontra no presente e que possui caráter transiente. Outras definições de termos que também são de importância vital e que não me ficaram explícitas no contexto da filosofia são palavras como a causalidade, a gratuidade e o engajamento - que estão relacionados entre si. Além disso, o argumento que defende a responsabilidade não só sobre suas escolhas mas sobre a consequência delas e logo implicando na responsabilidade a todos os humanos não me é convincente o suficiente, seja porque é fraca seja porque não entendi o raciocínio. Acho que é aí que a grande questão do existencialismo ser um humanismo se solidifica, mas ainda assim tenho dificuldade em ver como cada um é responsável pela escolha do outro, a consequência é clara e inevitável, mas o que tenho a ver com a vida dos outros? Nada, creio eu, sou apenas responsável pelas minhas escolhas e não de outros. As citações abaixo talvez contextualizem um pouco e possam guiar na justificativa do argumento de Sartre. De qualquer forma, serão tópicos para explorar em outro tempo.

Sartre sobre responsabilidade e humanismo

Sartre sobre o cogito se reconhecer em terceiros

A grande surpresa para mim desse livro foi nessa segunda citação. É de uma poesia imensa dizer que minha existência não é capaz de se ater apenas em si, mas é preciso um segunda para que minha consciência se reconheça como real. Não se pode existir sem o outro. O outro é tão essencial para minha noção de si quanto minha self. Achei um ótimo argumento contra o solipsismo. Por isso que Sartre odeia essa postulação epistemológica. É impressionante o quão influente é o pensamento de Descartes. Outro nome que aparece recorrentemente é do Kant.

Sartre sobre engajamento pessoal e esperança

Sartre e cogito ergo sum como verdade absoluta

A única que crítica que achei interessante e pertinente apresentada pela obra na seção de discussão com outras pessoas foi a P. Naville quanto à originalidade das ideias de Sartre. Não sei mensurar o quão novas foram as ideias sinceramente, já que quem foi fundador mesmo do pensamento existencialista foi Soren Kierkegaard. Mas creio que Sartre que popularizou e repaginou boa parte do existencialismo agnóstico. Além disso, é de uma ironia imensa criticar filosofia quanto a originalidade quando todo mundo sabe que a maioria dos autores falam as mesmas coisas só que com palavras diferentes e em ordens diferentes.

Essa obra não é um guia sobre o existencialismo, muito menos uma introdução a ele. O problema é que muitas pessoas o leem como se fosse e dão por entendidas sobre a teoria. Porém para entender o pensamento de Sartre é realmente necessário que se leia suas outras obras mais densas, o que nem todos fazem. Quem pode culpá-los não é mesmo? Esse tipo de literatura não é voltado para o público comum e sim para acadêmicos de filosofia, mas não restrito a eles claro, porém o âmbito de discussão requer um nível mais aprofundado sobre a arte de ser amigo do pensar. Eu definitivamente terei de aventurar em outros textos futuramente, não só de Sartre, mas também de Heidegger, Kierkegaard, Hegel e até mesmo Marx para melhor entender as discussões e a filosofia em si.